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2 de março de 2008

Doze Mãos - Capítulo 5

Capítulo cinco

Engraçado, pensei eu, deve existir um lugar realmente aconchegante para que, para ficar comigo, ela queira passar por esse corredor escuro, cheio de homens fedorentos e capangas fortemente armados e ameaçadores.
- OK – disse um deles, com voz jovem, quando eu já estava amarrado numa cadeira.
- OK – eu respondi cordialmente.
Sussurros.
- Você se acha muito esperto – disse ele.
- Você não sabe o quanto – respondi automaticamente.
- Você não sabe quem eu sou.
- E você, sabe?

Tenho essa mania de ser enigmático. Apanhei durante meia hora.

- Você há de perdoar meu filho – disse um deles, mais velho – é novo nos negócios, eu o trago para essas missões de treinamento, mas ele simplesmente não evolui na arte da tortura e do interrogatório.
- Está desculpado – disse eu, cuspindo um dente.
- Obrigado – disse o jovem, de forma sincera.
- Você é Henrique Dias Huinz, o irmão do Capitão Geral da Brigada do Povo? – disse o pai do garoto, muito mais mal educado que ele.
- Ora, pois, sim.
- Queremos a arma – ele disse.
- Que arma?
- A arma. Que seu irmão lhe confiou, e você escondeu em algum lugar – disse, dessa vez demonstrando irritação. Se ele ao menos soubesse o quanto seu bafo era intimidador, não perderia tempo mudando a entonação da voz.
- Não sei do que se trata.

Apanhei por mais meia hora, embora dessa vez meu senso sobre o tempo tenha ficado prejudicado porque, depois dos primeiros quinze minutos, eu tivesse começado a sentir o corpo novamente.
- Pronto pra falar? – disse o jovem.
- Eu nasci pronto – respondi.
Silêncio.
- E então?
- É um revólver bucal. Está instalado no barman.
- Você mente – disse, parecendo entusiasmado por ter arrancado uma informação de mim. Engraçado, me importavam mais os pedaços físicos que tiveram o mesmo destino.
- Sim. Mas se eu realmente dissesse que ela estava gorda...
- Não! Estou falando que você está mentindo agora.
- Claro. Você me pergunta algo que não sei do que se trata, sem nem ao menos se apresentar, e...
- Sou Higor de Har.

O nome era famoso. Não tinha certeza se era um por que havia alguém com esse nome na minha turma de dança ou se esse era o verdadeiro Higor de Har, filho de Heitor de Har, o Mafioso. Era uma honra ser espancado por aqueles homens famosos. Ou, por um bailarino tão habilidoso.
- O que vocês querem? – eu disse, dessa vez realmente querendo cooperar.
- A arma. Deve estar em uma caixa, ou invólucro, ou algo do tipo.

Lembrei-me de tudo.
- Meu querido Bog nos proteja – deixei escapar entre o segundo e recém-adquirido terceiro lábio.
- O que houve? – perguntou o pai, Heitor de Har.
- Fomos todos enganados. Eu, vocês, o governo da Nova República.
- O que é a arma? – disseram uns quatro ou cinco deles ao mesmo tempo, embora eu pudesse discernir um pedido de ‘posso ir ao banheiro’ entre eles.

Pensei em como explicar que um homem chamado Ruy havia me embebedado por semanas a fio, com o objetivo de me transformar num peão, e de absorver todas as informações de que precisasse. E de se livrar de mim, sem ter de sujar as mãos. Simplesmente discutindo comigo e me mandando ir comprar comida, sabendo que eu fugiria para beber.
- Um homem narigudo chamado Ruy tem uma caixa com poder suficiente para explodir toda Novíssima Iorque. Mas esse não é o nosso maior problema.
- E qual é nosso maior problema? – indagou Higor.
- O meu é escapar com vida agora que lhes dei a informação que queriam. O seu, é escapar do raio de ação da pistola de concussão que essa loura aí atrás segura, apontando para vocês.

A mulher que havia me atraído para esta armadilha se voltava contra seus empregadores. Ela estava roubando o único que poderia encontrar Ruy, a bomba, e defeitos nos antiquados filmes 2D de Stanley Kubrik: Henrique Dias Huinz. Eu.