Culpa sua
Era fim da tarde e eu precisava almoçar pois que não o tinha feito naquele dia, nem no anterior. E, pelo saudável hábito de jamais ter tomado café da manhã, só o que me restava de alimentação nas últimas 48 horas era uma bacia de pipoca de microondas na janta. Do dia anterior.
Minhas incríveis habilidades alimentares postas de lado, continuemos: visto que a maior parte da comida que consigo preparar é manufaturada, já vem pronta, congelada ou com um pacotinho de pó amarelo sabor galinha (ou cinza bacon, ou vermelho gado), eu nunca prestei atenção na qualidade dos condimentos que tinha em casa. Até precisar deles, nesse dia, e descobrir que na verdade eu não os tinha de forma alguma.
Fui bater na porta dos vizinhos, no apartamento da frente, sem sair correndo e rindo como uma criança, como de costume. Atendeu o vizinho:
- Oi.
- Oi.
- Eu tô me aventurando na cozinha mas não tenho nem sal, por acaso... -
Minhas incríveis habilidades alimentares postas de lado, continuemos: visto que a maior parte da comida que consigo preparar é manufaturada, já vem pronta, congelada ou com um pacotinho de pó amarelo sabor galinha (ou cinza bacon, ou vermelho gado), eu nunca prestei atenção na qualidade dos condimentos que tinha em casa. Até precisar deles, nesse dia, e descobrir que na verdade eu não os tinha de forma alguma.
Fui bater na porta dos vizinhos, no apartamento da frente, sem sair correndo e rindo como uma criança, como de costume. Atendeu o vizinho:
- Oi.
- Oi.
- Eu tô me aventurando na cozinha mas não tenho nem sal, por acaso... -
A pausa aí não foi em reverência nem em susto, foi uma daquelas pausas 'o que é que eu vou dizer mesmo?', com a diferença de que eu sabia o que queria dizer, mas não consegui porque percebi que o vizinho estava nu da cintura pra baixo.
Reação primera: levantar a sobrancelha em dúvida. Depos, erguer o olhar, fazer uma cara de desfinado. Ainda, fingir que nada está acontecendo, inspirar e tentar terminar a frase. Por fim, racionalizar o acontecido e por alguma razão pensar em como coisas que são engraçadas de contar não nos fazem rir no momento.
Agora, não me leve a mal. Eu não sou o primeiro a chamar a polícia quando alguém, dentro da própria casa, resolve ficar com a metade do corpo pra fora das roupas, mas é má educação atender à porta assim, sem contar que geralmente a parte desnuda é a de cima.
E nesse caso, eu preciso apontar, além de estragar minha fome a calma passiva do indivíduo atendendo a porta pelado pelado me abalou (ou enervou) de tal modo que foi uma reação instantânea e fruto da minha polidez exemplar exclamar:
- ...velho, tu sabia que tu tá de pau de fora?
- Ah... é mesmo.
E depois de uns cinco minutos procurando uma cueca, ele me volta e diz que não sabe onde o sal está, quem saberia me dizer é a esposa e ela infelizmente fugiu com alguém e com alguma quantia considerável de dinheiro e a senha da conta no banco. Menos mal, pensei eu, que tenho um vizinho que não é um tarado exibicionista. É só um cara que leva um golpe daqueles de novela e fica atordoado a ponto de por o pau ao vento (figurativamente, pois não venta nos corredores do prédio).
Isso aconteceu faz uns dois anos e até hoje não dormi sem chavear bem a porta. Isso pode parecer pouco, mas considere que eu já me mudei de prédio. Duas vezes.
Reação primera: levantar a sobrancelha em dúvida. Depos, erguer o olhar, fazer uma cara de desfinado. Ainda, fingir que nada está acontecendo, inspirar e tentar terminar a frase. Por fim, racionalizar o acontecido e por alguma razão pensar em como coisas que são engraçadas de contar não nos fazem rir no momento.
Agora, não me leve a mal. Eu não sou o primeiro a chamar a polícia quando alguém, dentro da própria casa, resolve ficar com a metade do corpo pra fora das roupas, mas é má educação atender à porta assim, sem contar que geralmente a parte desnuda é a de cima.
E nesse caso, eu preciso apontar, além de estragar minha fome a calma passiva do indivíduo atendendo a porta pelado pelado me abalou (ou enervou) de tal modo que foi uma reação instantânea e fruto da minha polidez exemplar exclamar:
- ...velho, tu sabia que tu tá de pau de fora?
- Ah... é mesmo.
E depois de uns cinco minutos procurando uma cueca, ele me volta e diz que não sabe onde o sal está, quem saberia me dizer é a esposa e ela infelizmente fugiu com alguém e com alguma quantia considerável de dinheiro e a senha da conta no banco. Menos mal, pensei eu, que tenho um vizinho que não é um tarado exibicionista. É só um cara que leva um golpe daqueles de novela e fica atordoado a ponto de por o pau ao vento (figurativamente, pois não venta nos corredores do prédio).
Isso aconteceu faz uns dois anos e até hoje não dormi sem chavear bem a porta. Isso pode parecer pouco, mas considere que eu já me mudei de prédio. Duas vezes.