Mensageiro
Sentado na beira extrema do trono, o Imperador tamborilava os dedos na perna. A mensagem chegaria a qualquer momento.
Entrando no salão, dois guardas imperiais carregavam, um de cada lado, um homem mais morto do que vivo. Um olho completamente fechado, coberto de sangue, alguns pedaços enegrecidos (talvez queimados?) e uma perna numa posição impossível.
- Ele está vivo? - perguntou o Imperador, disparando na direção dos recém chegados enquanto todos os nobres, serviçais e outros presentes abriam passagem - Está morto? Relatou a mensagem a alguém!?
- Não, majestade. Está vivo, mas ... - disse o guarda, interrompido pelos berros do Imperador : acordem este homem!
O médico da corte foi chamado enquanto o Imperador já chacoalhava o mensageiro, como que tentando arrancar a mensagem à força. Gritava perguntas para o quase-morto: qual é a mensagem? A batalha foi vencida? Os bárbaros recuam? Meu filho está vivo?
O mensageiro por fim foi despertado (e só muito pouco) por uma combinação de tratamento médico, sentido de urgência e balde d'água.
O silêncio era absoluto. Do mais influente dos nobres ao mais humilde dos camponeses, o destino de todos dependia do conteúdo daquela mensagem. O médico aproximou o ouvido da boca do mensageiro, que sussurrou:
- Mensagem ao Imperador - tosse, sangue -, de seu filho, general e herdeiro...
- Sim!? Sim!?
- Mas primeiro - mais tosse - uma palavra de nossos patrocinadores...
E morreu. E tudo que sobrou do Império, arrastado pra fora da História pela guerra, fome, praga e sofrimento humano, foi o sentimento de que nada de bom pode sair dessas propagandas obrigatórias no começo dos vídeos do YouTube.