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- Ok, pessoal, o tempo acabou. Larguem as canetas. Larguem - Marcos, largue a caneta. Isso, vamos lá, passem os papéis pra cá.
Recolhe todos os papéis. Os funcionários trocam olhares, tamborilam os dedos na mesa, forçam a língua contra o interior da bochecha. Muito nervosismo no ar.
- Então vamos lá, vamos ver o que a equipe tem a dizer. E a primeira sugestão é... "von"- não, "vender", isso, acho que é "vender", que letra horrível! Não é a toa que os clientes tem reclamado de que não conseguem entender as ordens de compra emitidas. Deixe-me ver, "vender min-es"? "Menes"? Ah sim, "menos". Quê? - ajeita o óculos, traz o papel para mais perto do rosto - " Vender menos"? Quem foi que escreveu isso?
-Ah, senhor, acho que o anonimato é parte do exercício, senhor. Quer dizer, acho que -
- Cale a boca, Marcos. Eu sei. Eu só quero saber quem é o gênio que acha que 'vender menos' é uma opinião válida de melhoramento para a produtividade da empresa. Se pelo menos estivessémos falando de lucro a frase faria sentido, apesar de ser exatamente o contrário do que a lógica indica como o óbvio!
- Ah, veja bem senhor, foram só alguns minutos pra escrever, talvez a frase fosse mais longa, não tenha dado tempo de -
- Marcos, calado! - a tensão na sala parece diminuir entre os demais empregados conforme Marcos se torna o centro das atenções do chefe, agora com suor na testa apesar do ar condicionado ligado no máximo - foram três minutos, acho que é tempo suficiente para acabar uma sentença de mais de três palavras!
- Desculpe, senhor. Tem razão, senhor. Eu só acho que muitos aqui não escrevem à mão há muito tempo, sabe como é, o computador -
- Chega, Marcos, chega. Vou fingir que não sei que foi você quem escreveu isso e vou lhe dar um chance - só uma chance! - de dar outra sugestão, agora, que melhore a produtividade da empresa. Vamos lá, trinta segundos. Vamos, estou contando, vinte e cinco, vinte e quatro, é bom que seja uma idéia útil, se não boto você no olho da rua! Vinte, dezenove -
- Caligrafia!
- ... o quê?
- Aulas de caligrafia para toda a equipe!
E foi assim que os clientes pararam de reclamar, a empresa resolveu o seu único problema de comunicação e Marcos foi continuamente promovido. Tornou-se presidente da empresa no final do mesmo ano apesar de ter furado a entrada na tal reunião, sendo apenas um office-boy de outra empresa sediada no mesmo prédio.