Mendigos da manhã
Fui com os amigos e colegas de república a um lugar bem hipster do Rio de Janeiro. Naquela mágica hora do dia em que está amanhecendo e o número de crimes com morte diminui reunimos o grupo para partir rumo às ressacas. Vamos rachar um táxi? Não, vamos a pé, quem sabe conseguimos comer alguma coisa no caminho? E conseguimos.
Um membro do grupo abordou um senhor que abria uma fruteira para os negócios do dia: tenho muita fome, quebra um galhão aí pra gente, me dá uma laranja? Ele deu. Ninguém nega, parece, comida para os desesperados que pedem educadamente. Em grupo. Às seis e trinta da manhã. Espera, disse meu amigo mendigo com iniciativa, tem como cortar pra gente? Sim, tinha. Podem ser duas laranjas? Somos vários e uma não chega.
Receber aquelas laranjas não só nos nutriu e forneceu material para um divertidíssimo jogo de tiro-ao-alvo com bagaço (com o alvo sendo uma agregada de um amigo, adquirida durante a noite) como também nos iluminou sobre as possibilidades da mendicância cedo-matutina. Partimos para a feira de rua (era no caminho, mesmo). Lá mendigamos um bom pedaço de mandioca; aproveitei o embalo e barganhei. Quanto é o quilo, seu moço? Só tenho dois pilas trocados, dá pra ser? E dava, levei com trinta porcento de desconto.
Mas eis que bateu a fome de verdade e paramos para comer um bauru, sanduíches e assemelhados. A fome é muita, prepara essa mandioca aqui pra gente, por favor? Ele não soube bem o que fazer e chamou o chefe. Até preparava, disse, mas demora muito pra ferver. Que pena, dissemos, mas será que não dá pra adiantar pelo menos uma porção de salada de frutas como cortesia? E deu, no final das contas.
Tudo é possível. Pra quem pede educamente, em grupo, às seis e trinta da manhã.
Tudo aconteceu já há alguns meses e, depois de entrar na geladeira naquela manhã, o tal quilo de mandioca nunca mais foi visto.
Um membro do grupo abordou um senhor que abria uma fruteira para os negócios do dia: tenho muita fome, quebra um galhão aí pra gente, me dá uma laranja? Ele deu. Ninguém nega, parece, comida para os desesperados que pedem educadamente. Em grupo. Às seis e trinta da manhã. Espera, disse meu amigo mendigo com iniciativa, tem como cortar pra gente? Sim, tinha. Podem ser duas laranjas? Somos vários e uma não chega.
Receber aquelas laranjas não só nos nutriu e forneceu material para um divertidíssimo jogo de tiro-ao-alvo com bagaço (com o alvo sendo uma agregada de um amigo, adquirida durante a noite) como também nos iluminou sobre as possibilidades da mendicância cedo-matutina. Partimos para a feira de rua (era no caminho, mesmo). Lá mendigamos um bom pedaço de mandioca; aproveitei o embalo e barganhei. Quanto é o quilo, seu moço? Só tenho dois pilas trocados, dá pra ser? E dava, levei com trinta porcento de desconto.
Mas eis que bateu a fome de verdade e paramos para comer um bauru, sanduíches e assemelhados. A fome é muita, prepara essa mandioca aqui pra gente, por favor? Ele não soube bem o que fazer e chamou o chefe. Até preparava, disse, mas demora muito pra ferver. Que pena, dissemos, mas será que não dá pra adiantar pelo menos uma porção de salada de frutas como cortesia? E deu, no final das contas.
Tudo é possível. Pra quem pede educamente, em grupo, às seis e trinta da manhã.
Tudo aconteceu já há alguns meses e, depois de entrar na geladeira naquela manhã, o tal quilo de mandioca nunca mais foi visto.