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Nada dito aqui deve ser levado a sério. Deve ser levado ao forno por 30min. Não se sinta culpado ao não servir, eu também não sirvo pra nada. Blog melhor visualizado em resolução 1680x1050 pixels, em monitor SAMSUNG de 22 polegadas e sob efeito de psicotrópicos. O blog é ruim e os posts mais novos não vão pro topo. O limite de caracteres nessa mensagem é 500, então sobrou espaço: vendo monza 83.

8 de abril de 2010

Trauma

Participo quase que obrigatoriamente das festividades anuais dos calouros de minha universidade. Isso pois quis o destino que eu morasse bem em cima do bobódromo de minha cidade, onde os coloninhos e patricinhas-wannabe recém-chegados das cidades menores próximas tentam (em vão) se enturmar na cidade grande.

De qualquer forma, participar dessas ocasiões é legal pois o sentimento de "já passei por isso" é estranhamente agradável, quase tão agradável quanto atropelar pessoas durante as aulas práticas na auto-escola. E eu sempre passo pelo menos uma hora lá, na rua, conversando com os colegas e dando risada dos calouros (os populares bixos) pelas palhaçadas que fazem voluntariamente (ou sob efeito do primeiro álcool jamais ingerido).

Mas a bobeira natural do meu ser não respeita as convenções sociais, e portanto tenho que, às vezes, fazer bobagem até no meio de festividades como essas. A mais recente é um belo exemplo.

Explico: parado lá entre amigos e vários desconhecidos destinados a me encontrarem futuramente nos corredores da faculdade, uma guria qualquer, por motivo desconhecido, esbarra em mim. Grito a plenos pulmões, com uma cara de deseperado que deve ter sido a causa dos terremotos no Chile: "NÃO TOCA EM MIM!". Ela se assustou um pouco, mas me afastei rápido o suficiente para evitar problemas. Pelo menos por hora.

Eis que mais tarde uma outra guria, do mesmo grupo (eram todas colegas de curso participando das festividades com meu curso) me cumprimenta. O cumprimento em si foi só um "Oi", mas o que interessa é que me estendeu a mão. Agora, não sei a razão de ter feito o que fiz, juro que não foi planejado, mas olhei para ela com os olhos gélidos de um estivador russo alquebrado pela vida sofrida e disse, matando pelo menos dez porcento de meu caráter honesto no processo: "Não encosto em mulher". Essa ficou mais assustada do que a primeira. Achei justo continuar.

"É sério", eu disse. "Não encosto em mulher. Pode perguntar pra tua colega ali, antes ela esbarrou em mim e eu sem querer gritei com ela". Como de costume, saí do local rapidamente, mas dessa vez não rápido o suficiente para deixar de escutá-la comentando com outra colega: "Viu aquele ali? Diz que não encosta em mulher!".

Alguns segundos depois (que para sempre serão lembrados na história como os últimos momentos de minha já então desguarnecida vergonha na cara) saltam na minha frente as três gurias da história. A primeira, com quem gritei, a segunda, que me estendeu a mão, e a terceira, que não fez nada de importante. Eis que a primeira me estende a mão e diz "Prazer, Fulana".

Fica difícil explicar minha reação, mas fui um ótimo ator. Estendi a mão alguns centímetros, mas a puxei de volta como quem se envergonha do que tinha acabado de tentar fazer. Contorci os músculos da face em expressão de dúvida, creio que seja algo parecido com a cara do capitão do Titanic momentos depois do impacto com o iceberg. O meu iceberg em questão (três gurias) me fitava com uma tripla cara de incredulidade. Mas eu adicionei veracidade à minha interpretação olhando pros lados vergonhosamente, como que procurando alguém que me salvasse de ter que encostá-las.

A do meio (a segunda) disse então: "Viu, eu falei que ele não encostava em mulher!", como se tivesse acabado de descobrir um animal raro. Não mencionei, mas eu estava parado em uma roda de conversa e por puro acaso do destino, ao ouvir estas palavras, colegas meus corroboraram a história acidentalmente "Não encosta nele, não encosta nele". Cheguei a ouvir uma voz máscula exclamar "Não encosta nele que ele é meu", o que me faz evitar andar sozinho nos corredores da faculdade desde então. Essa parte, no entanto, parece ter passado despercebida a elas, e eu não sei o que sucedeu da conversa pois (pela terceira vez) saí do lugar em que estava em disparada. Dessa vez para ir embora, pois já e estava de saída mesmo.

No caminho de casa (curto, por sinal) encontrei um colega desgarrado e narrei a história toda para ele. Combinamos que ele explicaria para elas que fui maltratado por uma serviçal alemã da família, que me fazia comer objetos pontiagudos e programar em assembly. Era trauma de infância, portanto.

Não sei exatamente como o resto da história se desenrola, mas também nem importa. Acho que a informação que coletei já é suficiente para confirmar que as pessoas estão muito mais inclinadas a acreditar em traumas de infância do que o imaginado. Isso até diminui um pouco meu respeito pela humanidade, mas de certa forma me dá esperança de que um dia eu possa contar pra todo mundo mais detalhes sobre meu verdadeiro trauma (ter acidentalmente matado um colega de aula em uma partida de frescobol).