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Nada dito aqui deve ser levado a sério. Deve ser levado ao forno por 30min. Não se sinta culpado ao não servir, eu também não sirvo pra nada. Blog melhor visualizado em resolução 1680x1050 pixels, em monitor SAMSUNG de 22 polegadas e sob efeito de psicotrópicos. O blog é ruim e os posts mais novos não vão pro topo. O limite de caracteres nessa mensagem é 500, então sobrou espaço: vendo monza 83.

18 de novembro de 2009

Ai, ai, Rio de Janeiro

Quem já me ouviu contar uma história sabe que não sou muito bom em narrar coisas de forma cronologicamente lógica (olha que bonito isso, "cronologicamente lógica", repita em voz alta), mas como o trabalho de organizar os fatos é exaustivo prefiro recorrer à mais fácil tática de mentir descaradamente entre uma verdade e outra. Mas, dessa vez, como as coisas que realmente aconteceram são mentiras demais para ser verdade, vou deixar as lacunas em branco mesmo.

A introdução da história é simples: um evento da área que estudamos, no Rio de Janeiro. Eu e vários colegas de laboratório vamos pra lá. Alguns com objetivos específicos, outros pela viagem mesmo. O que se sucedeu de interessante? Lá vão fatos desconexos.

Desde antes de ir pra lá: vários dos artigos que submetemos foram rebaixados ou não aceitos. Normal. O chato foi ver as (algumas) besteiras que foram. Não é inveja do tipo "eu poderia ter feito isso!", como quando se olha um quadro no museu. É indignação do tipo "eu não fiz isso porque é uma besteira completa!", como quando se olha um quadro no museu que foi pintado por um macaco.

Também antes de ir eu, especificamente, tive que plastificar minha identidade para poder entrar no avião. Como era visível a pressa, o atendente do local (no aeroporto) me cobrou a módica quantia de 10% do PIB. Já no Rio, alguns de nós não foram ver as principais atrações do evento porque simplesmente... não encontraram. Não que o local seja um labirinto, ou que seja muito grande, mas é que a sinalização existente só encontra explicação de ser se as pessoas que a colocaram lá secretamente filmam os turistas perdidos para vender as imagens para os Domingão do Faustão's do mundo. Ou isso ou, claro, gremlins.

Dois de nossos colegas foram para lá com o objetivo específico de conhecer possíveis orientadores de mestrado. Problema: um deles foi apresentado pelo apelido que recebeu no trote o tempo todo. Algo nas linhas de "Esse é o rosca, ele tá interessado em fazer mestrado contigo". Já o outro simplesmente não encontrou o orientador no evento. Além de oportunidades, perdemos algumas coisas. No avião de ida, em restaurantes, no albergue, no evento, na rua, nos pontos turísticos, no avião de volta e num táxi, já de volta em Santa Maria. Entre as perdas: casaco de couro, celular, guarda-chuva, cartão de crédito, crachá do evento, fone de ouvido, cartão de memória da máquina fotográfica, a carteira de identidade plastificada em (suponho) plástico feito a partir de ouro, e, por fim, as noções de higiene corporal. E não é para menos.

O quarto em que decidimos ficar, com três treliches (olha que legal, mais uma vez, sanduíche-íche), para nove pessoas portanto, era menor do que o menor quarto concebível por um homo sapiens, mesmo que muito imaginativo. Juro, tirei fotos e medições e tentei modelar o dito quarto em um programa de modelagem 3D e descobri que há algo de muito errado naquilo: segundo meus cálculos, deveríamos todos ter morrido sufocados durante a noite pelo CO2 expelido pelos demais - ou ter nos fundido em uma abominação com personalidades múltiplas. Felizmente, só parte dessas coisas aconteceu.

Além disso, com os banheiros coletivos, alguns preferiram tomar banhos mais temporalmente espaçados. E espacialmente: um no Rio de Janeiro, outro só no Rio Grande do Sul. Como estávamos em oito, um nono hospedeiro foi destacado para a cama sobrante: um senhor muito parecido com o Gargamel, dos Smurfs. Esse é, óbvio, o título do livro autobiográfico que um dia escreverei: "Eu mais oito no Rio de Janeiro dormindo com o Gargamel".

O albergue, ou hostel, era legal. O problema foi escolher o menor quarto do universo. Outro problema foi que, na cozinha compartilhada, encontrou-se um brócolis ancião em uma panela esquecida. Carinhosamente, apelidamos o brócolis de MummRá, o Ser Eterno. E o deixamos na panela, apesar dele implorar muito, inclusive em várias línguas, e chorar de forma muito semelhante a um bebê. Outro problema, que não destaco para não ser chamado de preconceituoso, foi o encontro de público gay que lá ocorreu durante nossa estadia. Uns vinte indivíduos dormindo no quarto ao lado do nosso, cuja parede que dava para o corredor era formada de tijolos de vidro translúcido. Esse foi o resumo da viagem para quem pediu a versão ultra-curta: teve um encontro gay no nosso albergue.

Ainda sobre o hostel, ele acabou com nossas piadas. Sem contar o evento gay, que acabou com o repertório de piadas do tipo "Vou tomar um banho, quem vem comigo?" (que eu tive a infelicidade de deixar escapar); uma bandeira de Israel e um relógio com o horário de Tel Aviv indicavam a origem israelita do estabelecimento. Ora, tendo nosso querido companheiro de laboratório de origem judaica viajando conosco, nos vimos privados de fazer as piadelas saudáveis que somos habituados a fazer no laboratório: "pede pizza de bacon com lombinho", "não quer deixar pra fazer sábado?". Qual é a graça de levar o judeu na viagem nessas condições?

Preocupados com as finanças, decidimos explorar a cuisine exótica que não se encontra no interior do Rio Grande do Sul. A saber: estabelecimentos baratíssimos onde, imagine, não se vende ovo em conserva e sorvete seco com balão grudado no açúcar. No Rio de Janeiro, se alguém se interessa, o negócio é procurar a venda do Chinês mais próxima - e não se preocupe, vai haver uma. Mas cuidado, pois o nosso Chinês próximo, por exemplo, não era muito bom no português: um colega pediu um pastel e recebeu, claro, um copo de açaí.

Um fator importantíssimo que marcou toda a nossa estadia foi a chuva onipresente. Choveu durante todos os segundos de todos os minutos que ficamos lá. Incrível. Choveu tanto que o mais cético de nós construiria uma arca para colocar animais aos pares caso ouvisse vozes do além. Tomamos banho de chuva, compramos guarda-chuvas ultrainflacionados dos camelôs do Rio (já mencionei que dentre as coisas que perdemos estava meu guarda-chuva?), ficamos com os tênis molhados o tempo todo...

É claro que quando se faz uma viagem de férias o único dia de sol é aquele em que se vai embora. Mas fomos embora muito cedo da manhã, só deu tempo de saber que aquele era o dia em que acabava a chuva. Bônus: não chovia há muito tempo em nossa cidade e, quando chegamos aqui, na volta do Rio, a chuva começou instantaneamente. É o que dizem: o que acontece no Rio, fica no Rio. Exceto as DSTs, o histórico escolar, a ficha policial, as dívidas, a culpa na consciência e a chuva onipresente.

Aqueles de nós que foram corajosos o suficiente para tentar ir na festa do evento sob chuva tórrida acabaram indo parar na festa errada. Não fui e só posso dizer que o resultado não deve ter sido satisfatório, para combinar com o resto da viagem.

O resultado da chuva foi devastador. Ficando a cinco quadras da praia de Copacabana, não colocamos o pé na areia. Pagamos uma soma exorbitante por um tour que resultou em não ver absolutamente nada no Cristo Redentor (por causa da Neblina) e descobrir que o sambódromo é uma falácia (é uma viela pequena e feia). Ainda no tour, nos separamos em dois grupos para visitar o Pão de Açúcar e um deles não conseguiu fazer a visita. Cinco colegas decidiram ir no último dia de manhã (que fez sol, lembram?), antes de pegar o avião e, pra isso, marcaram a visita bem cedinho. É óbvio, o guia chegou muito atrasado, quando eles já deviam estar indo para o aeroporto, e com um carro de quatro lugares para levar cinco pessoas. Até agora não sei como conseguiram pegar o avião. Suponho que tenham construído uma arca e negligenciado os pares de animais.

Eu e um colega de laboratório tínhamos o avião marcado para a mesma manhã, mas mais cedo. Assim, decidimos fazer essa parte do tour na tarde anterior, com chuva e tudo. E sem guia. Pelo menos nós conseguimos fazer o passeio, o que nos leva a crer que a viagem não poderia ter sido pior se tivesse sido planejada para tal pois nós dois, que fizemos o passeio pendurados numa caixinha de ferro e vidro muitos metros acima do mar, temos medo de altura.

Fomos nós com uma máquina fotográfica de um colega emprestada e lá, com os bilhetes na mão, pensei "vamos tirar as fotos aqui enquanto nossos rostos não estão contorcidos de medo". Prestes a entrar no bondinho, tentei tirar uma foto do colega. A máquina estava em modo vídeo.
Botei para o modo foto e tirei uma foto dos meus pés, para ajustar o flash. A máquina estragou logo depois. Resultado da visita ao Pão de Açúcar: um vídeo da nuca do meu colega e uma foto, escura, dos meus pés. Sem contar que esse colega perdeu o ticket de embarque no bondinho e, se não fosse um gaúcho que trabalha num café no topo do morro que descia conosco, teria que descer pela escada.

A melhor parte da viagem teria sido voltar pra casa, se não fosse meu companheiro de viagem me acordado a cada quinze minutos gritando 'o avião vai cair!', em vista do meu já mencionado problema de medo de altura.