Seis graus de separação II
(2024-07-17 Só hoje, arrumando as postagens, percebi que escrevi esta história duas vezes. Re-titulei esta como a versão II. A versão I é de 2011, contemporânea aos fatos narrados. Este foi de memória)
Quando morei na República da Sagrada Castidade morou com a gente um cara cuja situação era (ou era pra ser) passageira, de forma que dormia com ele a própria noiva. Ele procurou lugar pra morar por um tempo até combinar com a cunhada que eles, os três, dividiram um apartamento. Nos trâmites de procurar um apartamento maior, com os prazos de cá pra lá e de lá pra cá se cruzando, aconteceu que foi necessário a irmã da noiva dormir por uns meses lá na república, também.
No quarto compartilhado, dormíamos quatro (eram três camas e, variavelmente, de duas a cinco escovas de dente). No quarto individual, já dormiam ele e a noiva, de forma que a irmã da noiva se viu obrigada a dormir nos aposentos gerais. Só pra contextualizar, antes de adiantar que o namorado da irmã da noiva também se viu necessitado de dormir lá pelo mesmo período.
O leitor esperto já entendeu onde vamos chegar. O namorado da irmã da noiva do colega de apartamento tinha um irmão, que - claro - precisou ficar lá por uns tempos. Ele - claro - por uns dias precisou dar pouso a um amigo. A essa altura já não se sabia muito bem se existiam fronteiras de privacidade (muito antes do tal de Snowden confirmar), ainda mais quando o último elemento dessa cadeia toda teve o entrosamento de colocar música alta pra tocar na sala, depois de um dos moradores oficiais ter ido lá baixar o volume explicitamente. Como diz meu amigo que estava lá comigo na época: intimidade é uma coisa que o ser humano cria sob demanda.
Segundo a teoria dos seis graus de separação, o amigo do irmão do namorado da irmã da noiva do meu colega de apartamento poderia muito bem ter sido o Obama, um traficante de órgãos, ou um chinês cego e malabarista.