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Nada dito aqui deve ser levado a sério. Deve ser levado ao forno por 30min. Não se sinta culpado ao não servir, eu também não sirvo pra nada. Blog melhor visualizado em resolução 1680x1050 pixels, em monitor SAMSUNG de 22 polegadas e sob efeito de psicotrópicos. O blog é ruim e os posts mais novos não vão pro topo. O limite de caracteres nessa mensagem é 500, então sobrou espaço: vendo monza 83.

16 de abril de 2011

A República

Cheguei ao Rio de Janeiro para ficar um bom tempo e vim morar em uma república de estudantes, a República da Sagrada Castidade ('ReSaCa'). Sem conhecer nenhum dos moradores antes de chegar, me espantei com o modo de vida mas não tive problemas em me adequar a ele. Não temos copos, mas temos um Nintendo 64 e Mario Kart, o que é o suficiente para uma vida feliz, aparentemente.

A questão central e mais difícil de ser compreendida sobre o lugar é: como é que isso funciona? Em alguns pontos, parece uma comuna socialista ou acampamento de indigentes, em outros, só um acampamento de indigentes. Explico: tomei a liberdade de fazer alguns cálculos e o número de pessoas dormindo no apartamento com regularidade é, de fato, maior que o de camas e colchões infláveis. Alguém deve estar dormindo escondido no banheiro.

Sobre o comunismo latente: o regime de partilha dos bens também é diferente de tudo que já tinha visto em vida; não se sabe quem é o responsável pela compra de itens como papel higiênico, shampoo, pasta de dente, sabonete e outros, apesar de serem compartilhados por todos (menos por mim, que escondo essas coisas para uso pessoal na gaveta de cuecas - sou um traidor dos costumes locais). Em parte pela falta de responsabilidade objetiva, alguns períodos de falta são comuns e todos tratam a questão como uma prova de resistência: quem não aguentar mais lavar o cabelo com sabonete que compre o shampoo. E alguém sempre compra.

Em tempo: foi aqui que conheci o termo 'shampoo homeopático'. É aquele em que o banhista enche o pote de shampoo já completamente vazio com água, chacoalha e aproveita o que surgir de espuma. Reza a lenda que o processo pode ser repetido por até cem vezes, com admirável eficácia no tratamento de pontas duplas, raízes olheosas e outros termos de propaganda do Seda ceramidas.

No mais, tudo vai muito bem, exceto pelos poucos reveses: o banheiro interditado para reformas pelo menos uma vez por mês, as lâmpadas que queimam a cada quinze dias, a infiltração na parede tão profunda e antiga que tem nome de batismo, o ventilador de teto que cai enquanto desligado sem razão aparente e o corpo humano semi-decomposto que encontramos dentro do armário da pia da cozinha.

Somos felizes competindo em campeonatos de Mario Kart na madrugada, discutindo política e Direito, dormindo espalhados, bebendo tudo em uma xícara com a alça quebrada, no escuro, sem banheiro confiável e com o risco de colapso da estrutura física em geral. E somos mesmo, é tão divertido morar com pessoas estranhas que estou pensando em domesticar algumas.