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Nada dito aqui deve ser levado a sério. Deve ser levado ao forno por 30min. Não se sinta culpado ao não servir, eu também não sirvo pra nada. Blog melhor visualizado em resolução 1680x1050 pixels, em monitor SAMSUNG de 22 polegadas e sob efeito de psicotrópicos. O blog é ruim e os posts mais novos não vão pro topo. O limite de caracteres nessa mensagem é 500, então sobrou espaço: vendo monza 83.

15 de janeiro de 2010

Estranhezas

Acordei querendo encrenca.

Acordei querendo encrenca porque a vida é assim, de vez em quando dá aquela vontade. Tenho um amigo que costuma dizer que vontade "dá mais rápido que holandesa em carnaval de rua em Salvador". Suponho que figurativamente, visto que ele nunca conheceu uma holandesa, não conhece Salvador, não pula carnaval e não gosta de sair na rua.

Eu, geralmente um cara tão pacato, tão pacato que chegam a me considerar bobo.

Bobo, assim, não no sentido de que me enganam fácil. Aliás, até enganam, mas é porque eu deixo. Gosto de deixar as pessoas que desgosto me lograrem nas pequenas coisas. Me faz bem. Porque quando eu inevitavelmente me vingo (às vezes a vontade de vingança vem assim, do nada) não me sinto tão mal, é só retaliação, eles me lograram primeiro. O que eu posso fazer? Sou um moralista viciado em vingança.

Mas hoje acordei com o bicho. É hoje! Mal levantei e abri a janela. Tive que esperar bem uns cinco minutos até aparecer alguém em alguma janela visível. Pra esclarecer: moro num desses prédios cujas janelas têm a a distinta vista das paredes do próprio prédio. É dificil explicar qual a pegadinha arquitetônica que permite que um prédio tão chato faça tantas curvas retas.

Nesse tempo que esperei, quase que minha vontade se vai. Afinal, como diz meu já mencionado amigo, vontade "se vai mais rápido que um proto-núcleo de bério 14 decaindo no vácuo", ou algo do tipo. E suponho que literalmente, pois ele é físico - o que explica a falta de vontade em sair pra rua ou pular carnaval. Pena, pois é um ótimo dançarino.

Mas então, com a vontade de encrenca por um fio, aparece numa janela - uns dois andares pra cima - uma senhora, e como eu não tinha nada contra ela, tive que improvisar. Especificamente "contra ela" porque tenho algo contra a maioria dos vizinhos; costumo guardar numa caderneta os fatos e boatos que posso utilizar contra as pessoas. Afora as pessoas que deixo que me logrem, incluo todos os vizinhos, empregados, empregadores, professores e colegas. Vizinhos para estas situações de necessidade de desaforo domésticas em que me encontrava na ocasião. Empregados e empregadores para manter a ilusão de que participo dos jogos de poder que vejo nos filmes de espião envolvendo grandes corporações e, por fim, colegas e professores pois às vezes levo o caderno para ler em aula e acabo adicionando alguém que me enche o saco.

Como não fazia idéia de quem era aquela senhora, decidi partir logo pelas vias do insulto genérico:
- Será que vocês têm que fazer tanto barulho logo cedo, PORRA!?

Ela primeiro ficou indecisa, não sabia se era com ela. Assim que identificou meu olhar de matar gato de susto e fixo naquela veia (artéria?) horrível que tem no pescoço sexagenário, abriu a boca como aquele emoticon de susto e pasma com a total falta de bons costumes de minha parte. Tive que reforçar, pois ela titubeou e eu não gosto muito desses silêncios constrangedores:

- Tô falando sério, porra! Se me acordarem logo cedo assim de novo eu vou quebrar essa merda toda de condomínio!

Acho que é óbvio, mas não custa explicar, que gosto de causar aquele impacto ácido do xingamento ilógico. Por isso insisti no "logo cedo", bem sabendo que era passado da uma hora da tarde. E, como sempre, esperei o esboço de reação indignada para o gran finale: mal ela largou as toalhas que carregava para me apontar e eu fechei a janela subitamente com um sonoro "Bom dia!".

Mais tarde fui lá pedir desculpas para o filho dela, colocando a culpa do surto nos remédios que me causam alucinação.